sábado, 30 de janeiro de 2016

O vácuo moral e espiritual da Europa convida ao terrorismo

Publicamos abaixo uma tradução livre do artigo da jornalista dinamarquesa Iben Thranholm, publicado ainda antes dos abusos sexuais cometidos por imigrantes na Alemanha; mais precisamente no dia 23 de novembro de 2015.
Iben Thranholm 

Estes dias a mídia está transbordando com comentários e análises dos ataques terroristas da última sexta em Paris. Analisar tais ocorrências pelo ângulo da religião é algo constantemente ignorado ou rejeitado.

Essa é uma omissão curiosa, uma vez que os próprios terroristas emitiram declarações que indicam que a religião foi a motivação deles.

A declaração na qual o Estado Islâmico aceita a responsabilidade pelos ataques em Paris é feita em nome de Allah e os assassinatos são referidos como "uma batalha abençoada cujo sucesso foi possibilitado por Allah". Ela afirma que Paris foi tomada como alvo porque é "uma capital de prostituição e vício" e "a vanguarda da cruz na Europa".
Terrorista do grupo muçulmano jihadista Estado Islâmico
O Estado Islâmico frequentemente se refere aos parisienses como "cruzados" - o público do Bataclan, contudo, é classificado como "pagãos reunidos para um show de prostituição e vício." A afirmação encerra com uma ameaça terrorista de atacar aqueles que "ousarem amaldiçoar o Profeta e se vangloriarem de suas guerras contra o Islã".

Um outro aspecto dos ataques revela com clareza cada vez maior seu significado simbólico. Eles foram cometidos numa sexta-feira, dia sagrado para os muçulmanos. As vítimas do Bataclan estavam ouvindo música, o que é vetado no Islã fundamentalista, e os primeiros alvos que foram alvejados estavam no bar consumindo bebidas alcoólicas. O simbolismo ganhou uma nova dimensão quando os perpetradores do ataque começaram a atirar no público que ouvia a banda de rock Eagles of Death Metal tocar sua popular música Kiss the Devil ("Beije o Demônio").
Interior da boate Bataclan
Uma série de imagens tomadas momentos antes do massacre começar mostram pessoas no show fazendo o sinal usado para cultuar o demônio: mão fechada com os dedos indicador e mínimo erguidos em preparação para cantar a sinistra letra da música:

"Quem irá amar o Demônio?
Quem cantará sua música?
Quem irá amar o Demônio e cantar sua música?
Eu irei amar o Demônio
Eu cantarei sua música
Eu irei amar o Demônio e sua música"

Que diabólica ironia: o público no show canta ao demônio e então é massacrado a sangue frio por jihadistas que alegam estarem a serviço de Allah para aniquilar pagãos que celebram e invocam o Demônio.

Os parisienses parecem desprovidos de qualquer senso da realidade espiritual que eles estão atraindo. Logo suas invocações foram ouvidas e respondidas.

Que cena de partir o coração. Servos de Allah e foliões pagãos compondo um diabólico sacrifício de sangue.

A despeito da constante e ambígua referência do próprio Estado Islâmico a Allah como motivação para seus atos terroristas, os políticos e a grande mídia teimosamente se recusam a reconhecer o papel da religião em tais atos, sequer a mencionam.
"Nenhuma democracia. Nós queremos apenas o Islã!"
Em vez disso, eles contorcem sua retórica em figuras fantasiosas de irrealidade, sublinhando que o mundo não está em guerra contra o Islã, apoiados por alegações de que o ISIS não é islâmico. [...]  

Quando François Hollande discursou no Congresso em Versailles logo após os ataques, ele evitou dizer qualquer palavra que pudesse ligar as atrocidades ao Islã. Obama também tem insistido que o Ocidente não está em guerra com o Islã.

A religião tem sido, assim, um total tabu na narrativa da luta contra ao terror. Há duas razões pra isso. Uma é o politicamente correto: a ideologia do secularismo propõe a doutrina de que a religião é irrelevante, uma vez que ela não está entre os ideais do Iluminismo e deve portanto ser ignorada, exceto na medida em que puder ser feita objeto de desprezo e escárnio. A outra razão, mais significativa que a anterior, é que há pouca sensibilidade à religião e espiritualidade na Europa - e nenhuma entre a elite política.

Esta é a raiz do problema.

Independentemente da forma como se escolhe interpretar o desejo dos jihadistas de atingir "pagãos reunidos num show de prostituição e vício" e as invocações do demônio feitas pelo público, isso fornece uma imagem forte, ou talvez um sinal, do que cria e nutre o terrorismo. A força motriz é espiritual e não política.

O declínio do Cristianismo no Ocidente criou um vácuo moral e espiritual de proporções colossais. É este vácuo que impulsiona e alimenta o islamismo.

O Ocidente simplesmente não entende mais a espiritualidade e perdeu contato com os seus fundamentos espirituais ao abandonar o cristianismo, agora banido também do Tratado da União Europeia. Vários países tem removido símbolos cristãos dos espaços públicos. Ao remover Deus, eles têm criado um espaço vazio para o mal preencher. Este fator combinado com as políticas externas moralmente falidas tem tornado "aceitáveis" a matança e decapitação de cristãos, o que equivale a uma destruição das próprias fundações espirituais da Europa para alcançar ganhos geopolíticos, o último dos quais é a mudança de regime na Síria pela remoção do presidente democraticamente eleito.

O monstro criado pela rejeição do cristianismo está ganhando poder, como o terrorismo que tem crescido a partir de uma cultura descristianizada. Secularismo e islamismo são duas faces da mesma espiritualidade destrutiva, dois parasitas alimentando um ao outro. Enquanto a justiça e a misericórdia combinam-se nas virtudes que brotam do cristianismo, a destrutiva justiça do islamismo se mostra notoriamente demoníaca. Não há mais um contrapeso espiritual de graça, perdão e caridade, apenas um contraponto político, o qual é claramente insuficiente. 

O secularismo, o relativismo de valores, o materialismo e a democracia como uma nova religião (idolatria desprovida de uma divindade) constantemente provam a sua débil inadequação quando encaram o islamismo. As ideologias pós-cristãs não possuem um centro de força espiritual - vigilância e aparelhagem militar é só o que elas oferecem. É precismo mais do que isso para vencer uma guerra. É preciso força moral. O Ocidente tem perdido a sua força moral, o que fica amplamente evidente na sua política externa pelo apoio aos assim chamados grupos terroristas moderados, que mostram pouca moderação quando se trata de decapitações e de literalmente comer os corações de suas vítimas.
Imagem compartilhada nas redes sociais
A orgia de morte no Bataclan expõe com soberba clareza o que acontece quando um povo volta suas costas ao cristianismo, invoca forças diabólicas pretendendo usá-las para seus próprios interesses e faz a colheita amarga de uma realidade que deveria ter previsto.

A menos que a Europa reconheça a religião como pivô do terrorismo, irá perecer sem pistas sobre a verdadeira identidade de seu inimigo. A Europa permanecerá fatalmente débil. Um reavivamento espiritual é a única esperança para a Europa se fortalecer e se pôr de pé ante o Estado Islâmico. O vácuo espiritual é também um vácuo de valores verdadeiros: patriotismo, honra, virtudes viris, valores masculinos como valentia, coragem, disposição ao auto-sacrifício e uma fé forte em um Deus bom e amoroso. Tudo isso é urgentemente necessário se a Europa quiser derrotar o terrorismo e o islamismo radical.

[...]

A Europa prevaleceu contra o Islã muitas vezes ao longo da história. Foi assim na Espanha, na França, na Áustria, na Batalha de Lepanto em 1571, e todas essas vitórias foram conseguidas num tempo em que o cristianismo era uma fundação explícita e reconhecida. Agora, pela primeira vez na história, a Europa se põe a encarar o Islã numa batalha mortal sem a rocha do cristianismo para prover uma base de sustentação, sem identificar o inimigo e sem admitir que está em guerra. Sem bússola para mostrar onde se está, para onde deve ir ou porquê.

Se a Europa quer vencer essa batalha ela deve redescobrir o cristianismo. O Ministro do Exterior da França e fundador da da UE Robert Schumann uma vez fez esta declaração: "A Europa não viverá e não se salvará exceto na medida em que tiver consciência de si mesma e de suas responsabilidades, quando retornar aos princípios cristãos da fraternidade e da solidariedade."

Se a Europa persistir em rejeitar o cristianismo, deve abandonar toda esperança de algum dia ser capaz de fazer frente ao Islã e ao terrorismo islâmico.

Fonte: https://www.rt.com/op-edge/323118-europes-moral-spiritual-vacuum-terrorism/ 

Nenhum comentário:

Postar um comentário