terça-feira, 6 de junho de 2017

Mary Del Priore e o embuste ideológico travestido de "historiografia"

Del Priore: historiadora ou fofoqueira caluniadora?...
Caro leitor, antes de lhe apresentarmos as sandices delprioreanas que aqui iremos contestar, avisamos que no final deste artigo há uma lista de sugestões bibliográficas com obras que desmentem as imposturas e lorotas que a dona Del Priore apresenta como "verdades históricas". E concluiremos este artigo apontando as possíveis razões pelas quais ela difunde tantas farsas mascaradas como "história"

Tomemos ciência dos disparates que se encontram em seus livros tendo em conta que a sra. Del Priore é o tipo de escritora que: 

1) Gosta de escrever sobre casos sexuais alheios e "segredos de alcova", o que não é exatamente um indicativo de seriedade historiográfica. Uma obsessão por escândalos eróticos não combina muito bem com o rigor da pesquisa acadêmica, não é?

2) Já lançou numerosos livros, sempre controversos e polêmicos ou "picantes" e quase um logo após o outro, com pouco tempo de pesquisa e maturação entre eles, o que pode indicar uma deplorável superficialidade (um desprezo pela pesquisa aprofundada), além de uma sanha muito grande de vender muitos livros sem ligar muito para a veracidade dos seus conteúdos.

Para Del Priore, aquele que muitos intitularam "imperador filósofo" era só um "caipira"


Seja sincero: o que dizer de uma suposta "historiadora" que diz que o imperador Dom Pedro II do Brasil era apenas um "caipira" com pouquíssima cultura, quando há vários pesquisadores e autores sérios que afirmam que o 2º imperador do Brasil era um poliglota, conhecedor de idiomas modernos e antigos, um homem que inspirava dignidade, educação e nobreza pela sua simples presença?

Seria "caipira" uma designação honesta para um príncipe que teve uma rígida e sólida formação escolar em sua juventude e que, na vida adulta, mostrou-se sempre interessado pelas ciências, pela filosofia e pelas artes, além de ter financiado os estudos de jovens artistas brasileiros, ter sido amigo de vários cientistas de renome internacional e até frequentador de exposições científicas?


Segundo a bajulada e midiática "historiadora", a Princesa Isabel era mesquinha e desprezava os negros

O quanto você conhece sobre a princesa redentora? Você já não leu, em alguma fonte confiável, que a Princesa Dona Isabel, antes de ter condições políticas favoráveis para decretar a abolição da escravatura, chegou a pagar pela alforria de escravos com seus próprios recursos?... 

Já não viu em diversos textos que ela era amiga de célebres abolicionistas, entre eles profissionais negros como André Rebouças, e tinha contato até com abolicionistas republicanos como José do Patrocínio?... 

Soube que ela se engajava pessoalmente em campanhas para angariar recursos em auxílio aos desvalidos, por exemplo, do sertão nordestino?... 

Teve conhecimento de que ela, mesmo sabendo que assinar a Lei Áurea equivalia a perder o trono (pois tal lei iria despertar a fúria dos fazendeiros escravocratas e favorecer os republicanos), preferiu assiná-la e libertar os escravos a assegurar para si o terceiro reinado?... 

Ouviu sobre as numerosas virtudes cristãs e patrióticas da Princesa, sobre o amor dela pelo Brasil, sobre o plano que ela e seu pai tinham para indenizar os ex-escravos e assentá-los em terras próprias?...

Leu sobre os movimentos populares compostos principalmente por pobres e negros recém-libertos que combatiam os rebelados republicanos e defendiam o reinado vindouro de Isabel?

Soube que o processo de beatificação dela já está em curso na Arquidiocese do Rio de Janeiro e que as pesquisas envolvendo tais processos são feitas com inegável rigor pelos peritos da Igreja?

Ouviu sobre o desejo que ela tinha de estender o direito de voto às mulheres?...

Pois bem, se você acredita na velha Del Priore, esqueça essa Princesa Isabel cristã, popular e ousadamente bondosa a respeito da qual você leu em outras fontes. Del Priore afirma que ela tratava mal os negros (omitindo que ela foi amiga e até parceira de baile de André Rebouças, só pra citar um exemplo), que ela não queria realmente abolir os escravos e que só o fez porque sofria pressão externa (essa é velha) e que os chamava de "pretos"...

Ora, os próprios negros se chamavam assim! Naquela época, "preto" não era termo pejorativo! Tanto é assim que as irmandades católicas que eles criavam eram nomeadas como, por exemplo, "Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos", que existe até hoje, aliás.

Nesta fotografia da Missa de Ação de Graças pela Lei Áurea, vemos ninguém menos
que o grande escritor Machado de Assis, que era negro, bem próximo da princesa e de seu marido

Quem conhece textos sérios sobre o papel da Princesa na abolição e sobre o seu verdadeiro comportamento e pensamento, só tem uma palavra para classificar o parecer da velha Del Priore sobre ela: EMBUSTE!

Del Priore também diz que os conservadores do império (havia um Partido Conservador e um Partido Liberal) se articulavam contra a abolição. Nada mais falso! Embora certos parlamentares conservadores, de fato, possam ter se posicionado ocasionalmente contra leis que favoreciam os escravos, foi justamente graças a conservadores como o Visconde do Rio Branco e o Ministro João Alfredo Correia de Oliveira que várias dessas leis abolicionistas foram possíveis!

Eles contribuíram fundamentalmente na aprovação da Lei Eusébio de Queiroz (outro parlamentar conservador), que deu fim ao tráfico negreiro, na Lei do Ventre Livre, na Lei dos Sexagenários e na Lei Áurea! Todas as leis aprovadas pelo parlamento imperial que foram abolindo progressivamente a escravidão até a abolição total com a Lei Áurea foram articuladas por gabinetes do Partido Conservador! Este fato qualquer leigo com acesso à internet pode constatar facilmente. Mas Del Priore, "grande historiadora" idolatrada pela mídia, ignora esta dado histórico.

Ademais, se a abolição plena não veio antes de 1888, não se pode dizer que foi simplesmente por má vontade dos soberanos do Brasil ou dos parlamentares. Lembre-se que, nos projetos de José Bonifácio, considerado o articulador da nossa Independência e o fundador do Estado Brasileiro, os negros deveriam ser, o quanto antes, tratados como irmãos e compatriotas, com toda a humanidade que a caridade cristã exige, mas a abolição, no parecer dele, deveria ser gradual, paulatina, progressiva, por uma questão de prudência e segurança. 

Um decreto de abolição que viesse logo após a Independência poderia ter encharcado o Brasil no sangue de uma guerra civil como a que aconteceu nos EUA entre sulistas escravistas e yankees abolicionistas  A chamada Guerra de Secessão ocorreu nos Estados Unidos entre 1861 e 1865. Aliás, um detalhe interessante desse conflito é que os republicanos (conservadores nos EUA) eram majoritariamente abolicionistas, enquanto os democratas, que hoje posam de defensores dos negros e  das minorias, eram majoritariamente escravistas

A mão de obra escrava vinha sendo usada há muito tempo no Brasil, desde o século XVI, quando ainda éramos colônia portuguesa; era uma prática tão profundamente arraigada que até vários negros libertos tinham outros negros como escravos a seu serviço e a economia nacional inteira dependia dos escravos.

Muita gente, mesmo dentre os pobres, achava a escravatura normal, como na Roma antiga. E nem todos os senhores tratavam mal os seus escravos, não sendo raro que houvesse escravos brasileiros que recebiam heranças, ou que tinham um tratamento melhor do que o recebido pelos operários "livres" e assalariados das indústrias inglesas. Evidentemente, tratar bem não justifica o "direito" de posse sobre outro ser humano. Mas é preciso analisar os fatos históricos em seu contexto, não segundo os padrões atuais.

Abolir a escravatura abruptamente causaria o ódio incontrolável dos senhores de escravos que poderiam começar uma guerra civil contra as forças do governo imperial e contra os recém-libertos. O banho de sangue poderia ser imenso!

Sem falar que o governo imperial sequer tinha recursos para garantir o cumprimento de um decreto de abolição pré-maturo (até hoje o governo tem dificuldades para tentar coibir a escravidão em todo o território nacional, que dirá naquele tempo!). Porém, a "célebre historiadora" parece ignorar todas essas realidades.


Del Piore acusa Dom Pedro II de adultério sem apresentar qualquer comprovação

Eis a "amante" que Del Priore diz que Dom Pedro II tinha
Como avaliar uma suposta "historiadora" que, baseando-se em pasquins republicanos (sic), que eram máquinas incessantes de produção de calúnias contra a família imperial (uma vez que gozavam da política tolerante de Pedro II em relação à liberdade de imprensa), bem como em panfletos difamatórios anônimos e em cartas afetuosas que Pedro II trocava com a condessa de Barral (preceptora das princesas e amiga muito próxima da família imperial), logo conclui, julga e afirma categoricamente que havia um caso amoroso entre os dois?

Seria confiável uma historiadora que faz uma constatação dessas usando, como se fosse prova cabal do suposto adultério, as expressões de carinho contidas nas cartas (comuns na época) e as vagas menções a "encontros" que há nelas? Quem nunca teve um encontro não-amoroso com uma amiga para falar sobre algo importante ou simplesmente para bater papo?

Ora, quando o gabinete do Visconde do Rio Branco caiu, após a crise da "Questão Epíscopo-maçônica" (chamada também de "Questão Religiosa"), Dom Pedro II teria abraçado com força o Duque de Caxias (segundo o que este mesmo escreveu) e dito a ele que não o soltaria até que ele aceitasse assumir o gabinete!... Será que, por este episódio, poderíamos supor que o imperador tivesse também um caso homossexual com o velho duque???... Talvez Del Priore desconfie disso também...

A bem da verdade, não se pode negar com absoluta certeza que possa ter havido algo mais que uma simples amizade entre Pedro II e Barral, mas também não se pode honestamente assegurar que havia! É uma das muitas incógnitas da história para as quais nós temos que aceitar que não há respostas exatas. E esse "algo mais", que pode sim ter existido entre os dois, pode não ter sido nada além de um encantamento mútuo ou uma paixonite que jamais se consumou carnalmente.

A própria Del Priore afirma que as cartas deixam transparecer mais um afeto "entre almas" do que uma volúpia de desejo carnal. Seja como for, se existiu realmente um caso de adultério, não parece haver muitas evidências que permitam afirmar isso como se fosse um fato provado, o que desqualifica Del Priore como historiadora.

Ora, a Princesa Isabel, chamada por seus críticos de "católica fanática e ultramontana", foi amiga da condessa durante toda a sua vida!... Será que essa amizade teria se mantido se houvesse razões para ela ou sua piedosa mãe (a imperatriz Dona Teresa Cristina) desconfiarem de um suposto adultério entre a condessa e o imperador???...

Aliás, a própria Barral era considerada uma boa católica! Se não o fosse, a imperatriz jamais a teria deixado ser preceptora de suas filhas! 

Se, não obstante a falta de evidências, existiu algo de adultério entre o imperador e a condessa, isso é algo entre eles e Juiz Supremo das almas, não é matéria para uma obra historiográfica que se pretenda séria e objetiva! 

Del Priore me faz lembrar do velho Dan Brown inventando um caso imaginário entre Jesus e Madalena com cavaleiros templários protegendo os descendentes deles e o Opus Dei tentando abafar o caso... Mas o Dan Brown, pelo menos, admite que escreve livros de ficção!...

Quanto crédito merece um(a) historiador(a) que, embora incensado(a) pela mídia, não perde uma só oportunidade de proferir juízos temerários sobre a moralidade pessoal de personalidades históricas e forjar visões questionáveis sobre eles?... Visões estas, aliás, contestadas por pesquisadores que se atém mais aos fatos e dão menos vazão às suas impressões e preconceitos pessoais.


As razões dos embustes

Del Priore talvez esteja mais interessada em influenciar
o presente (e o futuro) do que em retratar fielmente o passado
Bem, além do conhecido fato de que "polêmica vende bem" (e sexo também, como a dona Del Priore bem sabe), há um outro fato que poderia explicar por que uma historiadora de renome se presta a publicar livros com visões tão parciais e mal fundamentadas: a desconstrução ideológica do passado por razões político-culturais.

Mary Del Priore é uma típica professora de história formada pela geração de acadêmicos marxistas que até hoje se esforçam para reprimir qualquer sentimento patriótico brasileiro que tenha por referência os grandes homens e mulheres do nosso passado pré-republicano. 

Sim, há da parte deles um esforço sistemático para ridicularizar e desacreditar os grandes vultos do nosso passado. Um povo sem heróis, sem grandes referenciais de conduta, é um povo mais fácil de ser influenciado e usado como massa de manobra pelo partido.

Trata-se de uma geração de "historiadores" formados não para produzir conhecimento histórico genuíno, apresentando os fatos com o devido distanciamento e objetividade, mas sim para gerar nas massas uma "consciência de classe" (na acepção do filósofo marxista Georg Lukács), fazendo-as rejeitar tudo o que remete às tradições cristãs e aos valores nacionais mais caros ao povo. 

O que pseudo "historiadores" como Del Priore fazem é desconstruir a história, emporcalhar a imagem dos nossos ancestrais para que o povo sinta vergonha de seu passado e coloque toda a esperança no futuro "libertário e igualitário" prometido pelo partido! A receita é antiga: os iluministas  franceses fizeram a mesma coisa, a mesma difamação histórica em relação à Idade Média para fomentar no povo um profundo ódio às instituições tradicionais e, assim, incitá-los a aderirem à revolução!

O sentimento patriótico, assim como sentimento religioso, é concorrente da "consciência de classe", é adversário do sentimento vitimista do militante que se sente "historicamente oprimido e explorado". O patriotismo é oposto àquele "sentimento revolucionário" capaz de cegar um homem a ponto de fazê-lo aderir irrestritamente à agenda alienante da esquerda e votar cinco vezes seguidas no Lula, na Dilma, no Jean Wyllys ou na Ciro Gomes e ainda defendê-los de todas e quaisquer críticas! 

A valorização dos grandes heróis do passado (e a Princesa Isabel certamente foi um deles!) é um obstáculo ao projeto revolucionário marxista, principalmente quando estes heróis tiveram valores cristãos tradicionais que contrastam fortemente com o projeto da esquerda.

Destarte, pode ser que a dona Del Priore escreva tanta falácia movida por pura ambição, para "polemizar" e vender mais livros, mas também é possível que ela o faça por razões político-ideológicas. Mas creio eu que o mais provável que ela o faça pelos dois motivos!


Sugestões bibliográficas

Os livros listados abaixo não são todos excelentes, não são todos verossímeis da primeira à última página. No entanto, todos eles contêm informações que divergem abissalmente dos embustes que a sra. Del Priore diz e escreve. Boa leitura!


A Vida de Dom Pedro II, o rei filósofo - Pedro Calmon

Imperador Cidadão - Roderick J. Barman

Dom Pedro II - José Murilo de Carvalho

Dom Pedro II e seu reino tropical - Lília Schwarz

Princesa Isabel do Brasil - Roderick J. Barman

O Terceiro Reinado: a imperatriz que não foi - Maria Luiza de C. Mesquita (dissertação de mestrado)

A História da Princesa Isabel - Regina Echeveria

Princesa Isabel, a redentora - Ivete Gualberto

Isabel, uma princesa de carne e osso (Revista de História da Biblioteca Nacional)

José Bonifácio - Miriam Dolhnikoff (bônus)