Em recente entrevista à revista Gente, o filósofo Luiz Felipe Pondé deu respostas bastante incomuns para um professor de Filosofia e intelectual ateu. Confira abaixo alguns trechos.
Sobre o doutrina de "sucesso e prosperidade" pregada por algumas igrejas "evangélicas":
"A Teologia da
Prosperidade trabalha ideia de que eleição significa ganhar bens materiais: se
você está perto de Deus, você vai ficar rico e vai dar tudo certo na sua vida. [...] Veja como Jesus
sofreu! Ele foi rejeitado, perseguido e crucificado! E segundo a tradição bíblica
Jesus é ninguém menos do que o filho de Deus."
O sentido profundo do mandamento divino que prescreve "honrar pai e mãe":
"Esse mandamento é tributo à ancestralidade. É uma
reverência ao fato de que a vida se perde sem certos códigos e hábitos ancestrais.
A sabedoria dos que vieram antes de nós nos orienta e nos ajuda até hoje. Aliás,
ela diz quem você é. Quando você honra os ancestrais, está reconhecendo que
eles deixaram sabedoria. A Bíblia hebraica começa com Provérbios, que é um livro
sobre ancestrais. É claro que honrar pai e mãe tem a ver com honrar o passado.
Nós modernos temos um problema com isso porque cremos em nós mesmos como
criadores do melhor mundo que já existiu. É falso. Os nossos ancestrais foram sábios,
nos deixaram uma rica herança moral e cultural e não destruíram o mundo. Talvez
a gente destrua."
A respeito de como a atual geração deverá ser retrata no futuro, Pondé alfinetou:
"Daqui a 200 anos nossa época vai merecer meio
parágrafo nos livros de História: eles eram ressentidos, mimados, só queriam
direitos e não gostavam de trabalhar. Os intelectuais eram preocupados com os
direitos dos animais, mas não viam problema com o aborto de bebês."
Teologia da Libertação e modismos teológicos:
Bom, a Teologia da Libertação virou ‘PT’ ou algo do
tipo ‘vamos buscar o útero de Deus’. Tem a vertente agarrada às raízes das
comunidades eclesiais de base e essa coisa de tentar repensar Deus a partir de
alguma modinha. O cristianismo tem uma forte raiz profética. Os profetas
denunciavam os podres dos poderosos, mas nunca deixavam de denunciar também os
pecados do povo. Não achavam que povo carrega salvação só porque era pobre. A
Teologia da Libertação faz uma leitura seletiva do profetismo hebraico para
encaixá-lo no marxismo. Ela diz que o pobre é puro e bom e o rico é malvado. É
a mesma leitura seletiva da Teologia da Prosperidade. A diferença é que a
Teologia da Prosperidade é a versão liberal que reduz tudo ao seguinte: o
eleito é bom e vai ficar rico. Ambas são medíocres. As teologias políticas
tendem a perder a função religiosa. E a inteligência religiosa se perde no
meio.
[...] Ninguém precisa de ateus para duvidar de Deus com
os teólogos que existem ‘no mercado’ hoje em dia. A teologia está atrás das
modas, quer provar aos foucaultianos e aos marxistas que ela é legal. Já coube
a mim, um ateu darwinista, defender a ortodoxia bíblica em um debate com dois
teólogos, um discípulo de Karl Marx e o outro seguidor de Michel Foucault. Eu
fui apresentado no debate como ateu. Mas quando os dois terminaram de falar, eu
disse: ‘bom, agora os colegas me permitam fazer uma defesa da Bíblia’. A
teologia virou uma envergonhada. Ela não quer virar fundamentalista, o que é
importante, mas daí vai para outro extremo oposto que é tentar provar que Marx e
Foucault, na verdade, eram cristãos.
Sobre se o cristianismo tem culpa pela nossa culpa:
"A ideia de que o cristianismo inventou a culpa. É uma
grande bobagem! A psicologia evolucionista, de natureza darwinista, explica que
culpa é um dos centros da vida moral do ser humano. Quem não sente culpa é um
monstro. A experiência de sentir responsável, a vergonha de saber que fez algo
que não deveria ter feito, é algo universal. Qualquer um que conviva com jovens
pode verificar isso empiricamente. Uma pessoa que não sente culpa não é gente.
Por isso critico o besteirol contemporâneo de que você nunca deve sentir culpa.
Ora, a culpa é um fato da vida, é um produto da nossa consciência! Os críticos
da religião dizem que a igreja nos obriga a sentir culpa. É claro que existem
estruturas sociais e familiares que podem causar culpas morais. Mas essa
experiência transcende a religião. Basta conferir a boa literatura. Eu sempre
digo para quem, na esperança de fazer uma critica séria a religião, repete essa
bobagem: vá ler Nelson Rodrigues, pelo amor de Deus! Vá ler Dostoievski!"
Sobre a inclusão da Ideologia de Gênero na educação infantil:
"Bom primeiro, devo dizer que acredito que nas suas
vidas privadas as pessoas podem viver do que jeito que elas quiserem. O que eu
normalmente critico é a excessiva ingerência de “especialistas” nas escolas
que, na verdade, são ideólogos se metendo na educação das crianças. Ora, escola
tem que ser o lugar onde você vai ensinar matemática, geografia, ciências. A
educação moral tem que ser dada pelos pais, pelas famílias. Quem disse que eu
devo confiar nas ideias que uma coordenadora ou uma professora têm na cabeça?
Muitos deles nem são pais. E só estão interessados em ideologias. A Ideologia
de Gênero não respeita o fato de que são os pais os responsáveis pela educação
moral dos filhos."
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