quinta-feira, 9 de julho de 2015

O que faz os países pobres serem pobres?

A principal causa da pobreza material e intelectual que dificulta a vida em tantos países onde a renda per capita e o IDH estão abaixo da média mundial tem pouco a ver com fatores culturais, dificuldades históricas e localização geográfica e muito a ver com o tipo de governo que eles têm e com os governos que tiveram nas últimas décadas. (Abaixo, gráfico do mapa mundi indica a renda per capita dos países).
É só estudar a história recente dos países pobres para constatar que a economia tende a permanecer estagnada onde o Estado é dominado por quadros políticos de mentalidade patrimonialista, populista, revolucionária, socialista, intervencionista ou ultranacionalista. Tais ideologias políticas estatizantes aumentam a burocracia, estimulam o vicioso paternalismo estatal, inibem a livre iniciativa empreendedora, tornam o estado inchado e oneroso, favorecem a corrupção e afugentam investimentos. Elas atravancam a economia e perpetuam o estado de pobreza como nenhum outro fator de empobrecimento!

Religião?

Há quem diga que a religiosidade de um povo é um entrave ao desenvolvimento econômico por focar excessivamente nas importâncias espirituais. Sugerem que, quanto mais um país é constituído por pessoas religiosas, mais pobre ele tende a ser, ao passo que, quanto mais alheio à religião um povo for, mais rico se tornará. Por essa lógica, na Coreia do Norte, que é um país onde todas as pessoas são  forçadas pelo governo a seres ateias, deveria haver um paraíso de prosperidade e não um imenso gulag fustigado pela fome e pela repressão estatal.


Os defensores dessa tese não aceitam o exemplo dos EUA como contra-argumento porque, invocando Weber, afirmam que a religiosidade norte-americana é de um tipo excepcionalmente favorável ao progresso material por valorizar a prosperidade terrena como prelúdio da salvação celeste. 

Bem, aqui cabe lembrar que as agremiações religiosas estadunidenses nunca se resumiram apenas a protestantes adeptos da chamada Teologia da Prosperidade. Primeiro, nem todos os grupos protestantes com forte presença nos EUA professam essa teologia. E, segundo, a presença de católicos e religiosos de outras confissões também é notável no país. Quem não sabe que uma das festas mais populares de Nova Iorque acontece no dia de São Patrício (St. Patrick's Day), o santo católico que usava o trevo de três folhas para ensinar sobre a Santíssima Trindade aos pagãos e cuja história ficou famosa nos EUA graças à influência de numerosas famílias católicas de origem irlandesa que desembarcaram no continente americano há muitas gerações?... 


Garotas de ascendência irlandesa celebram o St. Patrick's Day em Nova Iorque
Além disso, convém recordar que a população de vários países com alta renda per capita e elevado IDH declara-se majoritariamente religiosa. Alguns exemplos: Suíça (cerca de 75% de seus cidadãos são cristãos, além de outras confissões), Itália (87% só de católicos), Luxemburgo (mais de 70% são cristãos), Mônaco (cerca de 95% só de católicos), Espanha (mais de 70% são religiosos), Irlanda (mais de 80% só de católicos), Inglaterra (67% são religiosos), Coreia do Sul (53% professam alguma religião), Austrália (61% só de cristãos), Singapura (mais de 80% são religiosos), Taiwan (mais de 68% só de budistas e taoistas), além de Hong Kong, Brunei, Qatar e Emirados Árabes Unidos, que são nações ricas onde quase 100% da população professa alguma crença religiosa.
Não custa atentar também para o fato de que a Europa se consolidou como continente mais rico e poderoso do mundo ainda na Baixa Idade Média, quando o cristianismo se mantinha como uma força altamente influente nas nações europeias, embora também seja verdade que a Igreja por muitos séculos tenha combatido a usura (empréstimo a juros) e pregado a doutrina antiliberal do "justo preço", o que certamente freou um pouco aquela ambição individual indispensável ao desenvolvimento capitalista. Por outro lado, é um fato histórico igualmente comprovado que a Igreja foi, se não a maior, uma das maiores forças dinamizadoras do processo civilizacional do Ocidente. Processo civilizacional que levou, consigo, prosperidade material para uma Europa que poderia estar hoje mais atrasada do que a África subsaariana, se o barbarismo de hunos, magiares, vikings, saxões e vândalos tivesse prevalecido em vez do cristianismo.

Sim, a Igreja forneceu elementos indispensáveis para que a Europa enriquecesse! A esse respeito, podem ser consultadas as obras abaixo:
O autor é Ph.D. pela Universidade da Califórnia, Berkeley

O autor é Ph.D. pela Universidade de Harvard
Embora possa parecer paradoxal que a prosperidade material seja favorecida por uma instituição que valoriza a modéstia e a pobreza individual, compreende-se perfeitamente como funciona essa "geração de riqueza, na pobreza" observando as ordens e congregações católicas: os seus membros individuais vivem modestamente, mas trabalham com diligência e, com isso, enriquecem as instituições das quais fazem parte. É isso o que explica, além das doações e heranças deixadas por leigos devotos, o grande número de propriedades pertencentes às ordens católicas. As pessoas físicas consagradas trabalham e vivem sem luxo pessoais, o que possibilita que a pessoa jurídica - a instituição - se enriqueça rapidamente, graças ao trabalho modesto e abnegado de seus membros. É isso que fazia, já na Europa medieval, com que os mosteiros se multiplicassem. E, graças ao trabalho desses religiosos, a economia local também prosperava, como escreveu Thomas Woods:

"Aonde quer que tenham ido, os monges introduziram plantações, indústrias ou métodos de produção desconhecidos do povo. Aqui introduziam a criação de gado e de cavalos, ali a elaboração de cerveja, a criação de abelhas ou a produção de frutas. Na Suécia, o comércio de cereais deve a sua existência aos monges; em Parma, a produção de queijo; na Irlanda, a pesca do salmão e, em muitos lugares, as vinhas de alta qualidade. Os monges represavam as águas das nascentes a fim de distribuí-las em tempos de seca. Foram os monges dos mosteiros de Saint Laurent e Saint Martin que, observando as águas das fontes espalharem-se inutilmente pelos prados de Saint Gervais e Belleville, as canalizaram para Paris. Na Lombardia, os camponeses aprenderam dos monges a irrigação, o que contribuiu poderosamente para tornar a região tão famosa em toda a Europa pela sua fertilidade e riqueza." (WOODS JR., Thomas E. Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental, Editora Quadrante, págs.32-3).


Localização Geográfica?

Há quem alegue que a má localização geográfica é que faz um país ser pobre. Bobagem! Vejam o Chile, cujo território é amplamente desfavorecido pelo relevo montanhoso e pelo clima frio: possui o melhor IDH e a melhor renda per capita da América do Sul, graças às políticas econômicas liberais de governos responsáveis e austeros. Por outro lado, a Venezuela, uma nação abençoada com um bom clima e terras agricultáveis, vem sofrendo recessão econômica e até crises de desabastecimento em decorrências das "reformas" socialistas que vem sendo implantadas no país desde o governo de Hugo Chávez.
Santiago, capital do Chile, e parte da Cordilheira dos Andes ao fundo.
Entretanto, por incrível que pareça, há quem alegue que a confluência de terreno fértil + clima tropical seria justamente um dos fatores problemáticos que favoreceriam a pobreza, uma vez que, dizem eles, os climas menos propícios para a agricultura funcionariam como estímulo ambiental para o desenvolvimento da indústria.  

Bem, pra derrubar essa tese basta recordar que: 
I) Quase metade da rica Austrália está acima do Trópico de Capricórnio. 
II) As prósperas nações asiáticas conhecidas como Brunei e Singapura estão praticamente sob a linha do Equador. 
III) O Catar e os Emirados Árabes estão praticamente sob o Trópico de Câncer. (Eles tem muito petróleo, mas a Venezuela também tem e ainda assim está em crise.)
IV) Os EUA sempre tiveram muitas terras agricultáveis e o clima é subtropical em grande parte do país. 
V) O Brasil certamente também seria, hoje, uma potência mundial, se escolhêssemos nossos governantes mais segundo critérios racionais e menos por simpatizar tanto com discursos demagógicos e promessas populistas.


Heranças históricas malditas? 

Muitas vezes pretende-se atribuir a pobreza de tantos países às "marcas deixadas pelo neocolonialismo",  à "maldita herança colonial", a conflitos étnicos e religiosos, tsunamis, terremotos, etc. Insistimos, porém, que o maior entrave para o desenvolvimento econômico de uma nação é a sucessão de maus governos que tenham ideologias nocivas, práticas desonestas e políticas econômicas desastrosas.

Dificuldades históricas são superáveis! Basta olhar para a Alemanha, para a Polônia, para o Japão, para a Coreia do Sul, para Israel, para o Líbano, para a Irlanda do Norte e para outros países que se reergueram após guerras, conflitos, catástrofes naturais ou que ainda enfrentem problemas paralisantes, mas que, mesmo assim, seguem se desenvolvendo.
Cidade japonesa de Hiroshima, a mesma que foi destruída por uma bomba atômica durante a 2ª Guerra Mundial